As Mundanças climáticas incluindo outros factores, estão a contribuir para o triplo peso de doenças transmissíveis (DT), não transmissíveis (DNT) e trauma
O presidente da Fundação Manhiça (FM), Martinho Dgedge, alerta que devido às alterações climáticas, como também pelo aumento da mobilidade humana, à urbanização não planeada, entre outros factores, os sistemas nacionais de saúde dos países da África subsariana, incluindo Moçambique, estão a sofrer o triplo peso de doenças transmissíveis (DT) e não transmissíveis (DNT) e o trauma. Dgedge, interviu no segundo painel do International Global Health Partnership Forum, um evento organizado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) em Barcelona. O painel tinha como tema: Oportunidades e necessidades no futuro cenário científico da saúde global, e Dgedge abordou as necessidades de saúde mais prementes que o Sul Global, em particular a região Subsariana, tem enfrentado ou enfrentará num futuro próximo.
Para Dgedge, este grupo de países estão a sofrer de um peso cada vez maior das doenças transmissíveis, existentes, ao mesmo tempo que enfrentam o risco de doenças emergentes e/ou reemergentes, destacando por exemplo o surto de cólera, a dengue e outros arbovírus, que já foram registados em áreas geográficas limitadas, mas que podem potencialmente expandir-se devido ao efeito das alterações climáticas. Por outro lado, “no que diz respeito às doenças não transmissíveis, já estamos a assistir a um grande aumento de doenças como as diabetes, a hipertensão arterial, o acidente vascular cerebral, o cancro e a insuficiência renal crónica, todas elas relacionadas com a transição epidemiológica que estamos a atravessar, alimentada, entre outros factores, pela rápida urbanização e pela mudança de estilo de vida, pela poluição e pelo envelhecimento. Num contexto que também é marcado por um conjunto de traumas, resultantes dos acidentes rodoviários, seguido da criminalidade violenta e dos conflitos armados, etc” acrescentou.
A COVID-19 teve impactos positivos para o fortalecimento dos sistemas de saúde da região
Por outro lado, os países da região têm redobrado esforços para transferir tecnologias do ocidente para a região, de modo a produzir evidencias e iniciativas locais de investigação para a produção de soluções locais para os problemas de saúde desses países. “E aqui, devemos reconhecer que um dos impactos "positivos" da COVID foi o reconhecimento de que o mundo é uma aldeia global, onde ninguém está seguro até que todos estejam seguros. Isto conduziu a uma velocidade sem precedentes na transferência de tecnologia do Norte para o Sul, em algumas áreas, nomeadamente a vigilância genómica, a modelização e o fabrico de vacinas” comentou.
Ainda segundo o Presidente da FM, entidade Gestora do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), as capacidades de sequenciamento genómica, registaram um aumento notável no continente africano desde o advento da COVID-19. “E um dos exemplos mais eloquentes foi a descoberta da variante Omicron da COVID por cientistas do Botswana e da África do Sul. E desde então, esta tecnologia também se expandiu para muitos outros países africanos, incluindo Moçambique, através do Instituto Nacional de Saúde e do CISM. Este último que implementa o projeto GenMoz, financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates (BMGF)” salientou.
No que concerne à modelação, destacou o surgimento de várias iniciativas lideradas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), com enfase no projecto MaMod Africa, implementado em Moçambique pelo CISM sob financiamento da BMGF, no qual estão a ser formados quatro moçambicanos (2 para o nível de Mestrado e 2 para o nível de Doutoramento), para pertencerem ao grupo da nova geração de modeladores africanos. Em relação à produção de vacinas, acrescentou que a região tem sido marcada pela crescente parceria público-privada que visa permitir o fabrico de vacinas no continente, destacando, a Partnerships for African Vaccine Manufacturing (PAVM), uma iniciativa criada para "reforçar o ecossistema africano de fabrico de vacinas e colocar África no caminho para fabricar localmente 60% das necessidades de vacinação de rotina do continente até 2040 ".
O Fórum Internacional de Parceria Global em Saúde, teve lugar no dia 28 de Novembro e tinha como objectivo principal, melhorar a saúde global para o benefício de todos. O mesmo evento, contou com a presença de técnicos de saúde, médicos, pesquisadores e dirigentes de instituições de saúde de vários países.
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