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Nercio Machele

“SÃO NECESSÁRIOS MAIS ESTUDOS SOBRE RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA”

Atualizado: 11 de dez. de 2023


Para assinalar a Semana (18 a 24 de Novembro) Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana (RAM), o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), e parceiros de pesquisa, organizaram uma sessão cientifica em formato webinar no passado dia 23 de Novembro. Na ocasião, houve entre os oradores, o consenso de que são necessários mais estudos sobre a resistência antimicrobiana para melhor a compreensão do fenómeno, pois representa uma ameaça para os seres humanos, animais, plantas e o ambiente.


O evento tinha como objectivo promover uma conscientização sobre as melhores práticas em RAM, entre as partes interessadas em saúde única (One Health) para reduzir o surgimento e a propagação de infecções resistentes aos medicamentos. “Somente em 2019, cerca de 1,3 mil mortes foram atribuídas à RAM, sendo que o continente africano de acordo com o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças do continente (África CDC), a resistência antimicrobiana é responsável em 27.3 mortes em cada 100,000 habitantes. Estes dados revelam portanto, a necessidade de aprofundamento de campanhas de sensibilização, bem como estudos sobre a RAM em países em vias de desenvolvimento, que incluem Moçambique”, enfatizou Inácio Mandomando, Investigador Sénior do CISM e embaixador da Sociedade Americana de Microbiologia (ASM) em Moçambique.


Segundo disse a Investigadora do CISM e da Universidade Eduardo Mondlane, Esperança Sevene “como forma de resposta à necessidade de estudos científicos sobre a RAM, foi criado em 2008 um grupo de pesquisa (Global Antibiotic Resistance Partnership - GARP) composto por diversos especialistas de saúde humana, animal e ambiental, cujo propósito era abordar a resistência antimicrobiana em 15 países do continente africano e asiático. Actualmente, o foco do GARP é gerar evidências interdisciplinares que descrevam o impacto das vacinas na prevenção da RAM em contextos específicos de cada país”.


Ainda de acordo com a Investigadora, uma das recomendações actuais para reduzir a RAM, pode ser o uso de vacinas, pois este tem impacto na prevenção da RAM. “O impacto indirecto está relacionado com a possível redução da incidência e propagação de doenças infecciosas, incluindo infecções susceptíveis e resistentes a medicamentos, enquanto o impacto indirecto do uso das vacinas, pode reduzir a incidência de infecções secundárias, a necessidade de tratamento antimicrobiano e pode também reduzir a selecção de microrganismos resistentes”.


Ademais, a investigadora acrescentou que, para além das vantagens para a Saúde Pública o uso de vacinas pode também ter impactos económicos, através da redução de custos relacionados à RAM e pode também contribuir na melhoria da gestão do uso de antibióticos, através da redução da emissão de receitas médicas para antibióticos e redução do número de pacientes prescritos.

Klebsiella Spp. é causa de doenças fatais em crianças <5 anos

Mandomando complementa por sua vez que, para além do uso de vacinas como mecanismo de redução da incidência da RAM, o reforço dos laboratórios africanos para que tenham a capacidade de realização de testes de sensibilidade aos antibióticos, pode ser outra alternativa. “Por exemplo, um estudo feito na Manhiça com a autoria da Arsénia Massinga, revelou que a bactéria Klebsiella Spp., é causa de doenças fatais em crianças menores de 5 anos. Isto ilustra, portanto, a necessidade e utilidade deste tipo de testes como forma de combater a resistência antimicrobiana” fundamentou.


Um dos desafios da área de Doenças Bacterianas, Virais e outras Tropicais Negligenciadas do CISM, é envidar esforços para o estabelecimento de novas abordagens de investigação molecular no contexto da resistência antimicrobiana, padrões de transmissão e virulência dos principais patógenos, bem como, contribuir para a formação de novos quadros em diferentes níveis e especialidades.

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