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Nercio Machele

VIGILÂNCIA GENÓMICA: UMA ESTRATÉGIA INTEGRAL PARA O CONTROLO E ELIMINAÇÃO DE DOENÇAS


A vigilância baseada na genómica está a tornar-se uma estratégia integral para o controlo e eliminação de doenças como a COVID-19, tuberculose, malária, HIV, doenças de origem alimentar, entre outras. Porém, apesar dos potenciais benefícios e da necessidade de controlar o elevado peso das doenças infecciosas, a capacidade da vigilância genómica permanece baixa em muitos programas de saúde pública no continente africano. Não é justificável do ponto de vista ético ou científico que os países com menos recursos tenham acesso a estas tecnologias tardiamente em relação aos países ricos.


Com vista a promover uma reflexão e discussão sobre a adopção ou expansão do uso da vigilância genómica em doenças infecciosas em África, o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), organizou no dia 21 do corrente mês, um Workshop subordinado ao tema, “Vigilância Genómica: promoção de equidade no ambiente tecnológico”, um evento que contou com a participação de investigadores do CISM e parceiros, incluindo o Ministério da Saúde (MISAU), o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), a Associação de Cientistas Espanhóis na África Austral, entre outros.


De acordo com o Director Científico do CISM, Pedro Aide, “as tecnologias genómicas estão a impulsionar algumas investigações inovadoras, realizadas actualmente. No entanto, os benefícios destas tecnologias não serão alcançados plenamente se não forem implantadas a nível mundial (espírito de solidariedade global), pelo que a atenção à equidade na implantação destas tecnologias é essencial para os benefícios da saúde humana. Esperamos com este tipo de eventos, promover esta solidariedade, partilhando os conhecimentos gerados no CISM, bem como por parceiros e investigadores ao redor do mundo.”


Gravação do webinar disponível: https://www.youtube.com/watch?v=d8w_AdZZFXs&t=6s
...em Moçambique resgista-se anualmente uma incidência total de cerca de 116.000 casos de Tuberculose

De acordo com Loide Martigane do Programa Nacional de Controlo da Tuberculose (PNCT) no MISAU, as tecnologias genómicas podem ajudar na luta contra várias doenças, incluindo a Tuberculose. “Por ano, são registados globalmente cerca de 10.6 milhões casos de tuberculose, provocando cerca de 1.3 milhões de mortes. Grande parte dessas pessoas, um pouco mais de 4 milhões, nunca foram diagnosticadas e/ou tratadas. Em Moçambique resgista-se anualmente uma incidência total de cerca de 116.000 casos,” comentou.


Face a este cenário, e com vista a alcançar as metas de prevenção, cuidados e controlo da Tuberculose, Martigane destaca que “novas ferramentas de diagnóstico são extremamente importantes, especialmente da tecnologia genómica, cujos ensaios (genotípicos) desenvolvidos nas últimas duas décadas produziram conhecimentos para rápida determinação da resistência aos agentes anti-tuberculose.

Novas ferramentas de diagnóstico são extremamente importantes, especialmente da tecnologia genómica

Ainda segundo a Martigane, os testes genótipos têm várias vantagens, tais como, o diagnóstico rápido, a utilização directa de amostras clínicas e de amostras que contenham bactérias não viáveis, maior potencial para testes de alta precisão e menores requisitos de biossegurança laboratorial para procedimentos de testes.


Por outro lado, a Investigadora do Instituto Nacional de Saúde, Nilsa de Deus, considera que a vigilância genómica é igualmente importante no controlo de doenças diarreicas, e comenta que “o sequenciamento genético que temos levado a cabo no âmbito de estudos contra o rotavírus (principal causa de doenças diarreicas), tem estado a adicionar valor, pois ajuda-nos a detectar por exemplo vários eventos de rearranjos genéticos nas estirpes do rotavírus em Moçambique. Mas é importante a continuidade deste tipo de vigilância, adoptando novas metodologias ou abordagens como a de saúde única (one health)”, acrescentou.




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