A HIGIENE SANITÁRIA NAS ESCOLAS PODE INFLUENCIAR O ABSENTEÍSMO DAS RAPARIGAS
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A HIGIENE SANITÁRIA NAS ESCOLAS PODE INFLUENCIAR O ABSENTEÍSMO DAS RAPARIGAS


Apesar de existir pouca evidência científica consistente, julga-se que a deficiente Gestão de Higiene Menstrual (GHM) influencia no absentismo, no fraco desempenho e na desistência escolar entre as raparigas, especialmente em países de baixa renda, contribuindo para a disparidade entre os sexos no alcance dos indicadores educacionais. Independentemente desta correlação estar comprovada, a GHM adequada deveria ser considerada um direito fundamental de saúde e bem estar e um requisito chave no contexto doméstico, escolar e laboral.


A este respeito, o CISM em parceira com a UNICEF e o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano implementaram um estudo sobre gestão da higiene menstrual subordinado ao tema “atitudes e experiências de raparigas em idade escolar em relação a gestão da higiene menstrual em Moçambique” e denominado MHM (Menstrual Hygiene Managment) com o obejctivo de compreender os desafios enfrentados pelas raparigas em idade escolar (10-14 anos) na práctica da GHM em Moçambique. Os resultados do estudo mostraram que durante a mestruação as raparigas em idade escolar enfrentam vários desafios relacionadas com a falta de habilidades de gerir a menstruação fora de casa.


Estes resultados, foram apresentados tanto a nível central bem como a nível provincial. A nível central os resultados foram apresentados à Ministra da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) e ao seu colectivo. A nível das províncias (Inhambane, Tete e Nampula) os resultados foram partilhados com entidades que representam as partes interessadas ao nível das províncias, distrito e postos administrativos envolvidos no estudo. Os mesmos foram também apresentados nas Jornadas Regionais de Saúde (Zona Norte) organizadas pelo Instituto Nacional de Saúde (INS), que decorreram de 14 a 15 Novembro na cidade de Nampula onde a audiência era constituída por investigadores, docentes, estudantes e profissionais de saúde, na sua maioria da região Norte e na Reunião Nacional sobre Saúde Menstrual, coordenada pelo Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos no dia 28 de Novembro na cidade de Maputo, a qual contou com a presença dos parceiros de WASH (UNICEF, SNV, WUSP do Banco Mundial, BeGirl, MISAU, MINEDH, Município, entre outros).


O estudo MHM foi implementado nas províncias de Inhambane, Nampula e Tete entre Maio de 2018 e Dezembro de 2019 e envolveu 700 raparigas em idade escolar (10-14 anos). Este, evidenciou que as raparigas faltam a escola de forma pontual durante a menstruação ou se ausentam temporariamente da escola e da sala de aula para se trocarem e/ou verificar o estado da roupa. Mas também evidenciou outros factores que influenciam na assiduidade, aproveitamento e permanência escolar, nomeadamente a participação em ritos, dificuldade de lidar com cólicas, vergonha, preguiça de gerir a menstruação longe da sua zona de conforto (que é a casa junto à mãe), o medo de ser descoberta ou que o material absorvente caia e seja motivo de gozação por parte dos colegas.


A pesquisa apurou ainda que as raparigas também enfrentam desafios referentes a questões como a falta de água, sabão, falta de local para descarte dos absorventes. Apesar do estudo ter verificado a existência de sanitários em todas escolas abrangidas na pesquisa, a maioria destes não possuíam água e sabão para higienização das raparigas durante o período menstrual. Nestas escolas as raparigas também enfrentavam o desafio de falta de privacidade no uso dos sanitários.


Todas estas barreiras, de forma cumulativa podem explicar o mau aproveitamento e eventual taxa de desistência entre as raparigas em idade escolar. No entanto, o estudo não mostrou evidência de uma directa relação entre a fraca GHM e a desistência da escola.


Baseado nos resultados, os investigadores do estudo teceram recomendações a serem implementadas tando a nível local bem como a nível nacional. A nível local, foi recomendado o reforço em quantidade e qualidade das infraestruturas sanitárias escolares e que estas cumpram com os padrões de segurança e privacidade, que haja disponibilidade de insumos de higiene (água e sabão) e tratamento adequado do lixo, mas também, o incentivo do diálogo sobre a menstruação no meio familiar e comunitário de forma a alinhar as percepções locais sobre a puberdade, menstruação e papéis de género com as directrizes e normas estabelecidas nas escolas.


A nível nacional, o MINEDH e seus parceiros de cooperação devem engajar-se num exercício de compilação e revisão crítica de todas leis, políticas, estratégias, planos de acção e directrizes nacionais, de modo a propor a inclusão da questão de GHM para a actualização das políticas de saúde escolar e do adolescente com actividades específicas de educação para saúde envolvendo os conselhos de escola, professores, pais de turma, encarregados de educação, alunos, lideranças comunitárias e profissionais de saúde. Este trabalho poderá levar a criação de directrizes nacionais, de seguimento obrigatório, para melhorar as condições de higiene e saneamento nas escolas, pois, uma Gestão Higiene Menstrual eficiente pode contribuir para manter as meninas na escola, permitindo que estas possam brincar, aprender e salvaguardar a sua saúde sem pressão e constrangimentos em relação a menstruação.

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