top of page

APESAR DE QUEDAS PROMISSORAS, TAXAS DE HIV ENTRE GESTANTES NO SUL DE MOÇAMBIQUE CONTINUAM ELEVADAS

Atualizado: há 21 horas

Foto da internet
Foto da internet

Trata-se de um estudo retrospectivo, baseado na análise secundária de dados registados nas consultas pré-natais e do Registo Nacional do Programa de HIV do Ministério da Saúde, referente ao período de 2010 a 2021. Este estudo descreve as tendências de infecção pelo HIV entre mulheres grávidas no sul de Moçambique, concretamente no Distrito da Manhiça, ao longo de 11 anos.


Os resultados revelam avanços significativos, como a redução da prevalência do HIV, mas também expõem desafios persistentes, sobretudo no que diz respeito às altas  taxas de novas infecções, que continuam a preocupar e reforçam a urgência de políticas de prevenção mais eficazes.


Intitulado “Mais de uma década de prevalência e incidência de infecção pelo HIV entre gestantes moçambicanas: uma análise secundária de dados coletados prospectivamente”,  o artigo publicado na renomada revista BMC Public Health tem como a primeira autora Anete Mendes, médica e pesquisadora do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM). A análise incluiu dados de mais de 21.000 gestantes que atenderam as consultas pré-natais de quatro grandes Unidades Sanitárias do Distrito da Manhiça, entre 2010 e 2021.


Os resultados mostram que, embora a prevalência geral do HIV entre gestantes tenha diminuído de 28,2% em 2010 para 21,7% em 2021, as taxas continuam entre as mais altas do mundo. O estudo identificou um pico temporário em 2016, quando a prevalência atingiu 35,3%, antes de voltar a baixar nos anos seguintes. De forma encorajadora, a maior redução foi observada entre mulheres jovens de 15 a 20 anos, com uma queda de 62% — de 14,3% em 2010 para apenas 5,3% em 2021. Entre as mulheres de 20 a 25 anos, registou-se uma redução de cerca de 43%, enquanto no grupo de 25 a 30 anos, a queda foi mais modesta, de 13%.


Apesar dessas melhorias, a ocorrência de novas infecções pelo HIV permaneceu elevada ao longo do período analisado. Em 2010, a taxa era de 12,75 por 100 pessoas-ano, subindo para 18,65 por 100 pessoas-ano em 2018, antes de baixar para 11,48 por 100 pessoas-ano em 2021. “Isso sugere que, embora menos mulheres estejam vivendo com HIV, novas infecções continuam a ocorrer em um ritmo preocupante”, disse a primeira autora do estudo, Anete Mendes. Ela comenta ainda que “o estudo funciona como um apelo à acção, para que os formuladores de políticas e autoridades de saúde intensifiquem os esforços em educação, testagem e retenção nos cuidados relacionados ao HIV, tanto em Moçambique como em outros contextos de alto risco”.


Especialistas alertam que as taxas persistentemente altas da incidência indicam lacunas nas estratégias atuais de prevenção ao HIV. “Esses dados ressaltam a necessidade de reavaliar e fortalecer os programas de prevenção e tratamento do HIV, especialmente para grupos vulneráveis como as gestantes”, afirmaram os autores do estudo.


Esta pesquisa foi realizada em parceria com o Ministério da Saúde, através do Programa Nacional através do Programa Nacional de controlo das ITS-HIV/SIDA (Infeções de transmissão sexual e HIV), com o apoio da Fundação Ariel Glaser contra o SIDA Pediátrico e  o Instituto de Saúde Global de Barcelon (ISGlobal), com o financiamento da EDCTP (European & Developing Countries Clinical Trials Partnership).


Estes achados realçam que a epidemia do HIV permanece um grave problema de saúde pública no sul de África e que Moçambique continua a enfrentar uma das epidemias de HIV/SIDA mais graves do mundo. Esta realidade exige atenção contínua e prioritária na agenda sanitária nacional, regional e internacional.


O progresso alcançado nas últimas duas décadas resultam de esforços conjuntos nacionais e internacionais. No entanto, tais progressos foram prejudicados por um sistema de saúde frágil, com inúmeros desafios e uma forte dependência da ajuda externa. Graças a investimentos provenientes de organizações como ONUSIDA, Fundo Global, Banco Mundial e doadores bilaterais como Brasil, Irlanda, Reino Unido, Dinamarca, Canadá, Suécia, Espanha e, até recentemente, os Estados Unidos. Este último, por meio do PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente dos EUA para o Alívio da SIDA), contribuiu anualmente com mais de 400 milhões de dólares para prevenção e tratamento. Contudo, a recente decisão do governo norte-americano de reduzir esse financiamento coloca em risco as conquistas alcançadas.


Segundo Anete, “o impacto do HIV vai além da saúde: afecta a educação, a economia e o futuro de milhares de crianças – especialmente raparigas, que enfrentam maiores riscos de abandono escolar, casamento forçado e trabalho infantil. Para evitar um retrocesso, é crucial garantir um financiamento sustentável e manter esta questão na agenda global da saúde e do desenvolvimento. Para além de ser um problema de saúde e social, trata-se também de direitos humanos e igualdade de género.”


Anete Mendes é licenciada em Medina Geral pela Universidade Eduardo Mondlane e   concluiu recentemente o seu mestrado em Pesquisa Clínica, com especialização em Saúde Internacional, na Universidade de Barcelona, Espanha. Actualmente, está matriculada no programa de Doutoramento, dando continuidade à a sua trajectória académica e científica.

 

Para Anete, a escrita deste artigo representou mais do que uma oportunidade académica. “Escrever o primeiro manuscrito é o momento em que tudo começa a fazer sentido: o método, a precisão, a ética, a escrita, o impacto social. Tem um peso simbólico e prático muito grande — é quase como um rito de passagem na minha carreira como pesquisadora. Foi também uma oportunidade de me descobrir: as minhas ideias, crenças, emoções e até bloqueios.”

 

A pesquisadora acredita que ser mulher na ciência é muitas vezes navegar por um caminho onde, além dos desafios comuns à pesquisa, ao mesmo tempo a mulher enfrenta barreiras sociais, como a falta de reconhecimento, baixa representatividade feminina, escassez de modelos femininos e o machismo estrutural. “Tenho a sorte de não enfrentar todos esses desafios, em grande parte porque as minhas tutoras são todas mulheres – e isso tem um impacto positivo enorme”, cerrou a autora.

コメント


Endereços e contactos

SEDE, MANHIÇA, BAIRRO CAMBEVE

Rua 12, CP 1929

Telf: (+258)  21 81 01 81  /  21 81 00 02

fundacao.manhica@manhica.net

ESCRITÓRIO DA CIDADE DE MAPUTO

Avenida da Marginal, nº 3987, CP 1929

Telf: (+258) 21 49 64 45 / 21 90 01 90

ESCRITÓRIO DE QUELIMANE

Av. Eduardo Mondlane, bairro 1º de Maio

(rua de pavê atrás da Esquadra da Sagrada)

Email: ester.domingos@manhica.net

ESCRITÓRIO DE MOPEIA

Rua Principal, Mopeia Sede

(Enfrente a praça dos trabalhadores)

Email: humberto.munguambe@manhica.net 

Uma iniciativa de

bottom of page