top of page

CASOS IMPORTADOS DA MALÁRIA IMPACTAM OS ESFORÇOS DE ELIMINAÇÃO DA DOENÇA

A conclusão, é parte de um estudo desenvolvido por investigadores do CISM e parceiros, no âmbito do projecto BOHEMIA
A conclusão, é parte de um estudo desenvolvido por investigadores do CISM e parceiros, no âmbito do projecto BOHEMIA

Um estudo realizado no âmbito do projecto GenMoz, apresenta uma abordagem inovadora para compreender o impacto dos casos importados de malária nos esforços de eliminação em regiões de baixa transmissão, com foco no extremo sul de Moçambique. Utilizando análises genéticas avançadas, os investigadores avaliaram a conectividade e as relações genéticas entre populações de Plasmodium falciparum, combinada com dados de mobilidade humana. O objectivo foi distinguir com maior precisão as infecções locais e às importadas, algo essencial para estratégias de eliminação mais eficazes.


“Tradicionalmente, a classificação de casos importados baseia-se no histórico de viagem das últimas quatro semanas, o que pode ser insuficiente para determinar com precisão a origem real da infecção. Reconhecendo essa limitação, desenvolvemos um modelo que integra dados genómicos do parasita e mobilidade humana, capaz de estimar com maior precisão a probabilidade de cada caso ser local ou importado” comenta Arlindo Chidimatembue, investigador do CISM e co-autor do artigo.  


A pesquisa analisou 1.605 amostras de P. falciparum colectadas em 2022, abrangendo nove províncias de Moçambique, incluindo distritos de Magude e Matutuine na província de Maputo – áreas com transmissão baixa e, portanto, mais próximas da eliminação da doença. Utilizando marcadores genéticos (microhaplótipos) e análise de identidade por descendência, os pesquisadores constataram que os parasitas classificados como importados apresentavam maior complexidade genética, típica de regiões com maior transmissão. Em contraste, os parasitas encontrados localmente eram geneticamente menos complexos, condizentes com áreas alvo da eliminação.


Os dados revelam diferenças marcantes entre os distritos analisados:

  • Matutuine, cerca de 48,6% dos casos foram classificados como importados.

  • Em Magude, essa proporção foi de apenas 10,7%.


Além disso, cerca de 63% das infecções importadas diagnosticadas nesses distritos tiveram origem na província de Inhambane, demonstrando que a mobilidade interprovincial tem papel central na persistência da transmissão.


Essa disparidade sugere que estratégias de eliminação devem ser ajustadas com base nas características locais
Essa disparidade sugere que estratégias de eliminação devem ser ajustadas com base nas características locais

Os resultados reforçam que, mesmo em regiões onde as infecções locais são raras, a importação de casos pode sustentar níveis residuais de transmissão. Sem acções específicas para identificar e conter casos importados — como o monitoramento de viajantes oriundos de zonas endémicas — a eliminação total da malária torna-se mais desafiadora.


A combinação entre ferramentas genéticas e dados de mobilidade surge como uma estratégia eficaz e promissora para orientar intervenções direcionadas, como monitoramento de viajantes, vigilância reforçada em pontos de entrada ou campanhas localizadas de rastreamento proativo da doença em áreas de origem.


Os resultados deste estudo, destacam a necessidade de estratégias adaptadas ao contexto local. Enquanto Magude que apresenta uma taxa de importação relativamente baixa, pode manter esforços de eliminação com foco em casos residuais locais, Matutuine que sofre impactos significativos de casos oriundos de províncias vizinhas, requer medidas específicas para conter a entrada de novos casos. Essa heterogeneidade epidemiológica reforça a ideia de que políticas nacionais de eliminação não sejam aplicadas de forma homogênea, mas sim baseadas em evidências locais, para garantir o uso eficiente e custo-efectivo dos recursos.


Finalmente, os autores defendem que o caminho para a eliminação da malária deve ir além do nível local e envolver coordenação regional. Para controlar a doença de forma sustentável, é necessário que regiões vizinhas também reduzam a carga de infecção. A incorporação de elementos genéticos e de mobilidade na vigilância de rotina é essencial para detectar rapidamente surtos importados e impedir sua propagação.


O GenMoz é um projecto implementado em Moçambique pelo Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), em colaboração com o Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM), a Malaria Consortium, o Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), a Universidade da Califórnia e o Institute for Disease Modeling, com o financiamento da Fundação Gates (BMGF)


Referência:

Pujol Arnau, Chidimatembue Arlindo, et al., Mayor Alfredo (2025) Estimating probabilities of malaria importation in southern Mozambique through P. falciparum genomics and mobility patterns. eLife, 14:RP107136. https://doi.org/10.7554/eLife.107136.1

Comentários


Endereços e contactos

SEDE, MANHIÇA, BAIRRO CAMBEVE

Rua 12, CP 1929

Telf: (+258)  82 316 85 30 /  84 398 68 23

fundacao.manhica@manhica.net

ESCRITÓRIO DA CIDADE DE MAPUTO

Avenida Cahora Bassa, Nº 92

ESCRITÓRIO DE QUELIMANE

Av. 7 de Setembro,  bairro Liberdade, Rua praça do Bonga

Email: dinoca.gesse@manhica.net

ESCRITÓRIO DE MOPEIA

Rua Principal, Mopeia Sede

(Enfrente a praça dos trabalhadores)

Email: humberto.munguambe@manhica.net 

Uma iniciativa de

bottom of page