Assinalada anualmente 20 de Agosto, o Dia Mundial do Mosquito oferece uma oportunidade sem precedentes de sensibilizar para os perigos colocados pelas doenças transmitidas por este insecto, informando o público sobre o impacto devastador na saúde global e no bem-estar das nossas comunidades, assim como sobre a importância da prevenção das doenças transmitidas pelos mosquitos como o foro parasitológico, a malária, filaria, e as de foro viral que são a febre amarela, a dengue e a Zika.
É neste contexto que Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM), em parceria com o Associação Pan-Africana de Controlo de Mosquitos (PAMCA) em Moçambique, o Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM), o Instituto Nacional de Saúde (INS), a Tchau Tchau Malária (TTM) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou um webinar que reuniu especialistas, profissionais de saúde, pesquisadores e estudantes de vários países para discutir os desafios e avanços no combate a essas doenças, especialmente no contexto de Moçambique, onde a malária continua sendo uma das principais causas de morbilidade e mortalidade.
“Os mosquitos são responsáveis por transmitir doenças que levam à morte e isso tem um impacto económico e social muito grande no mundo, e principalmente em África. Em 2022 foram registados cerca de 249 milhões de casos de malária a nível mundial. A vigilância dos vectores que transmitem essas doenças é importante para podermos ter informações sobre eles, e em caso de surtos ou epidemias, saibamos como lidar com esses vectores”, disse Mara Maquina, Entomologista do CISM, aquando da sua intervenção no Webinar alusivo ao dia Mundial do Mosquito, realizado no dia 28 de Agosto.
De acordo com a entomologista, os desafios no controlo do vector estão associados à resistência aos insecticidas, assim como às mudanças climáticas que expande as áreas de risco ou de amior concentração dos mosquitos, desafiando ainda mais pesquisa.
Segundo o Coordenador Científico do CISM, Vasco Sambo, o centro, através da área da Entomologia, possui capacidades para criação, identificação de mosquitos, e realização de testes de susceptibilidade aos insecticidas. “Paralelamente mantemos os esforços para continuar com a formação da próxima geração de entomologistas moçambicanos para que eles possam se tornar os próximos líderes na pesquisa entomológica para o CISM, assim como para outras instituições académicas ou de pesquisa nacionais e ou internacionais” acrescentou.
Ao apresentar os métodos de controlo do mosquito (pulverização intradomiciliária, a distribuição de redes mosquiteira, gestão de fontes larvais e gestão integrada do vector), Inês Juleca, Responsável do Controlo Vectorial no PNCM afirmou que o plano estratégico do PNCM 2023-2030 prevê-se reduzir a incidência da malária e a mortalidade por malária, mostrando que todos os esforços desempenhados para o tratamento desta doença, prevenção e tratamento, estão totalmente alinhados, e, sendo assim “estamos perante uma descida de prevalência da malária em Moçambique. Em 2022, foi realizada uma análise subnacional para investigar as razões para o aumento de incidência que aconteceu entre 2012 até 2020. As principais razões incluíram uma melhoria do sistema de educação mensal e um melhor acesso de testes através dos agentes polivalentes de saúde, detectando uma maior proporção de casos”.
A Responsável do Controlo Vectorial comentou ainda que já foram identificados 20 distritos de baixa transmissão, onde se pretende fazer a eliminação desta doença, e decorre neste momento a gestão integrada dos vectores, uma forma de praticamente prevenir e controlar a transmissão da malária. O controlo envolve medidas como reduzir o contacto de vector homem, reduzir o tempo de vida deste vetor, que é a sua longevidade. “Temos grandes progressos na área do controlo do vector em Moçambique. Estamos a falar de boa coordenação entre os parceiros no domínio da malária, de reforço de capacidade entomológica nos insectários, na formação do pessoal e também na formação de atualização sistemática do pessoal técnico que trabalha com a malária”, declarou a fonte.
Para controlar os mosquitos e as doenças por eles transmitidas foi criada, em 2012, no Quênia, a Associação Pan-Africana de Controlo de Mosquitos (PAMCA), que é uma associação de cientistas, pesquisadores e todos interessados em estudar os mosquitos. Esta associação também tem como seu principal objectivo organizar e divulgar informação sobre os estudos de mosquitos que são realizados em África, entre todos os países que fazem parte desta associação. Até o momento tem nove países registados em África. O PAMCA é muito conhecido porque promove inovações tecnológicas, em termos de controlo vectorial e outras estratégias para que o mosquito e os parasitas ou outros vírus que ele transmite possam ser controlados, treinando o pessoal e compartilhando o conhecimento científico que estes cientistas têm entre os seus membros e parceiros.
“Desde 11 de Julho do presente ano contamos com o PAMCA Moçambique. Somos aproximadamente 20 membros, mas ainda queremos crescer. O PANCA Moçambique foca em campanhas de sensibilização para educar as comunidades sobre a importância do controlo dos mosquitos e como prevenir as doenças transmitidas por eles, actividades como as que estamos aqui a fazer hoje, neste webinar, em que envolvemos todos os actores empenhados em colocar os seus esforços no controle deste animal que é um dos que mais mata no mundo”, disse Cíntia Tamele, Entomologista – TTM e responsável da comunicação da Associação Pan-Africana de Controlo de Mosquitos em Moçambique, convidando aos interessados a se aproximar para fazer parte deste movimento.
Os participantes aventaram a possibilidade de lançar o PAMCA Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) para que a comunidade de língua portuguesa tenha alguma visibilidade no grande mundo anglófono e francófono, enfatizando que já há iniciativas dentro da comunidade e que podem ser reforçadas e integradas no PAMCA.
Notar que, há 127 anos, no dia 20 de Agosto, um médico britânico fez uma descoberta inovadora. Sir Ronald Ross encontrou o parasita da malária no estômago de uma fêmea do mosquito Anopheles, fornecendo a primeira evidência de que os mosquitos transmitem a malária entre humanos.
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