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QUEM ENGRAVIDA ADOLESCENTES NO DISTRITO DE MANHIÇA?

Os dados foram colhidos no âmbito do Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde entre 1998 a 2021.
Os dados foram colhidos no âmbito do Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde entre 1998 a 2021.

As gravidezes e os casamentos prematuros e/ou na adolescência estão entre os maiores problemas de saúde pública, representando também uma grave violação dos direitos humanos. Moçambique é o 7º país do mundo com mais alta percentagem de casamentos prematuros (56% de adolescentes do sexo feminino), a seguir ao Niger, ao Chad, ao Mali, ao Bangladesh, à Guiné e à República Centro-Africana. Apesar da dimensão do problema, ainda há pouco se sabe sobre o perfil sociodemográfico dos parceiros das mães adolescentes nestes países.


Com o objectivo de preencher essa lacuna, a equipa de demógrafos do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) realizou um estudo que visava contribuir com dados quantitativos para caracterizar o perfil sociodemográfico dos parceiros de mães adolescentes no distrito de Manhiça, contribuindo com evidências para orientar estratégias de prevenção de gravidezes e casamentos precoces, tanto neste distrito quanto em contextos semelhantes.


O estudo, liderado por Ariel Nhacolo, Demógrafo do CISM, baseou-se em dados do Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde do CISM recolhidos entre 1998 e 2021. O mesmo, analisou dados sobre a proporção de gravidezes e nascimentos em adolescentes de acordo com a idade e outras características socioeconómicas dos parceiros, examinou a evolução do perfil desses parceiros durante as duas décadas e meia de vigilância demográfica e identificou factores associados à fecundidade na adolescência, comparando as relações com parceiros adolescentes e adultos no distrito de Manhiça.


Ariel Nhacolo, Demógrafo e Investigador do CISM
Ariel Nhacolo, Demógrafo e Investigador do CISM

74,9% das meninas tiveram filhos com parceiros de 20 anos ou mais

De acordo com Ariel Nhacolo, durante o período analisado, o Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde seguiu 54.377 adolescentes do sexo feminino (com idades entre 10 e 19 anos) e constatou que 25,1% das meninas que tiveram filhos o fizeram com rapazes adolescentes, enquanto 74,9% tiveram filhos com parceiros de 20 anos ou mais. "Quando olhamos para os rapazes que se tornaram pais, constatamos que 89,1% tiveram filhos com raparigas adolescentes e 10,9% com mulheres mais velhas”.


Ainda segundo o investigador, outro dado importante para a formulação de políticas públicas é relacionado ao debate actual na comunidade científica sobre a definição de adolescência, tradicionalmente limitada aos 19 anos de idade. “Há uma discussão crescente sobre a necessidade de estender essa faixa etária até aos 24 anos. No nosso caso, se considerarmos essa definição ampliada, a proporção de meninas que tiveram filhos com rapazes adolescentes aumenta de 25,1% para 76,8% e a percentagem de rapazes que engravidaram mulheres mais velhas baixa de 10,9% para 4,8%.”


Para o investigador, estes resultados alertam para o facto de que as campanhas de prevenção de casamentos e gravidezes prematuros devem incluir também a protecção dos rapazes. “Verificamos que a percentagem de raparigas que engravidaram de outros rapazes adolescentes é alta e tem aumentado nas últimas duas décadas em Manhiça. Por outro lado, o facto de alguns rapazes engravidarem mulheres adultas sublinha a necessidade de incluir a protecção dos rapazes nos programas de combate a gravidezes e casamentos prematuros em contextos similares ao de Manhiça”, acescentou.


O Sistema de Vigilância Demográfica (SVD) é composto pela plataforma geográfica e demográfica e é implementado no Distrito da Manhiça pelo CISM desde 1996. Ao longo das últimas décadas, o sistema tem sido crucial para o desenvolvimento de estudos de investigação em saúde uma vez que fornece dados e indicadores demográficos que permitem medir o impacto das diferentes intervenções. O SVD permite localizar e acompanhar os participantes dos diferentes estudos, monitorar tendências demográficas da população e elaborar mapas precisos da distribuição de doenças na área de estudo entre outras potencialidades. Graças a essa infraestrutura, o CISM tem conseguido gerar evidências científicas sólidas que apoiam o planeamento e a implementação de políticas e programas de saúde pública a nível local, nacional e internacional.

2 comentários


Nelson Mauelele
21 de out.

É uma pesquisa interessante, com dados até relevantes, mas com uma grande limitação metodológica. Compreendo que seja um estydo da área de saúde, daí que se prioriza o metodo quantitativo, mas acho que o problema é mais complexo para ser compreendido apenas a partir de um único método, pelo contrário, acho que deveria haver uma triangulação metodológica mais rígida e diferentes perspectivas teóricas. Vejamos algumas das questões que o estudo acho que não consegue explicar: Quais são os perfis socioculturais desse grupo? Quais são as motivações económicas e até políticas detrás desses comportamentos? O que é considerado sexo e idade ideal para a prática do mesmo? Porquê fazer dessa e não daquela forma (formas de ac5ividade sexual)? Qual é …


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Gilda Gondola Sitefane
22 de out.
Respondendo a

Quero primeiro congratular o Demógrafo e Investigador do CISM Ariel Nhacolo Pelo estudo. De referir que nenhum estudo é completo e a escolha do método depende do objectivo do mesmo. Nesse sentido, o sendo um estudo puramente quantitativo e não misto, o estudo trás um ponto de partida cujas causas podem ser aprofundaras em estudos qualitativos.

Gostava igualmente de referir que em um dos sub-estudos do meu Doutoramento, por sinal qualitativo, os achados vão de encontro com os resultados quantitativos do estudo do colega Ariel. O estudo incluiu adolescentes e jovens de 15-24 anos, rapazes e raparigas, e, enfatizaram que muitas das adolescentes ficam grávidas de outros adolescentes desta mesma faixa etária.

Caso tenham interesse no artigo não…

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