Para marcar as celebrações do Dia Mundial da População, celebrado anualmente a 11 de Julho, o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) juntou-se ao Centro de Estudos Africanos (CEA) da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), ao Instituto Nacional de Estatísticas (INE), ao Instituto Nacional de Saúde (INS), e à Direcção Nacional dos Registos e Notariado do Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos (MJCR) para realizar um Webinar, no dia 24 de Julho.
O evento virtual reuniu pesquisadores e académicos da área da demografia e áreas relacionadas, representantes de organizações governamentais e não-governamentais, parceiros de cooperação, profissionais de saúde, estudantes e órgãos de comunicação social com o objectivo de discutir temas relevantes sobre o uso de dados demográficos para um futuro resiliente e equitativo para todos em Moçambique. Este fórum serviu também para apresentar as capacidades e potencialidades que o CISM possui para realizar estudos demográficos de alta qualidade e com uma abordagem longitudinal. Pois, há 28 anos, quando se estabelece o Centro de Investigação em Saúde de Manhiça para fazer pesquisa biomédica, foi crucial a criação de uma Plataforma de Vigilância Demográfica e de Saúde (HDSS) que pudesse compensar as lacunas que as fontes demográficas nos países menos desenvolvidos tinham e continuam a ter.
“É fácil notar que a Saúde da População é um alicerce para o progresso colectivo. Moçambique faz parte dos poucos países africanos que tem uma série mais longa e ininterrupta de censos populacionais desde 1930. Estamos a evoluir em termos de recolha de dados e também na melhoria da qualidade dos mesmos, o que é importante para termos maior conhecimento da dinâmica demográfica e poder fornecer informação necessária para a tomada de decisões. Porém, precisamos de melhorar os mecanismos de acesso aos dados”, Carlos Arnaldo, Pesquisador do Centro de Estudos Africanos da UEM.
Ao retratar sobre o Sistema de Informação Demográfica em Moçambique, Pedro Duce, Director Direcção de Estatísticas Demográficas, Vitais e Sociais (DEMOVIS) do INE relata que há uma tendência de redução da fecundidade no país, fenómeno que pode estar associado maioritariamente ao aumento de nível de escolaridade, ao acesso à informação e uso de contraceptivos, destacando que os dados do Instituto Nacional de Estatísticas não estão a ser devidamente explorados e exortando pela necessidade de se criar mecanismos para que os pesquisadores tenham acesso a eles, através do manuseamento das bases de dados existentes.
Anselmo Canda, Chefe da Repartição da Direcção Nacional dos Registos e Notariado do MJCR, afirmou que as conservatórias existentes a nível distrital estão conectadas em tempo real como o Sistema de Informação de Segurança Social de Moçambique (SISSMO) e Sistema Comunitário de Vigilância em Saúde e de Eventos Vitais (SIS-COVE) e que os dados numéricos sobre a população moçambicana estão disponíveis para análise demográfica, mas os dados qualitativos, que incluiem as diferentes variáveis, só se pode ter acesso através de uma solicitação formal. Entretanto, segundo a fonte, os inquéritos não abrangem todos as informações, sendo necessário a recolha de dados adicionas para intervenções específicas para fechar as lacunas.
“O CISM trouxe o HDSS para complementar o sistema de recenseamentos gerais da população feitos a cada 10 anos, e mesmo aqueles feitos a cada cinco anos têm suas lacunas, pois, não dão os detalhes ao nível do indivíduo. Agregado ao facto de que os dados que se requerem para pesquisa, necessitam de ser actualizados com regularidade, porque as pessoas nascem, morrem e migram”, disse Pedro Aide, Director Científico do CISM.
Aide acrescenta ainda que para fazer pesquisa é preciso ter um denominador comum populacional bem detalhado. Deve-se saber quantas pessoas existem numa determinada área geográfica, quem são essas pessoas e onde se encontram. Além disso, deve-se fornecer dados e indicadores demográficos que permitem medir o impacto das diferentes intervenções, localizar e dar seguimento aos participantes dos diferentes estudos, seguir as tendências demográficas da população e elaborar mapas precisos de distribuição das doenças na área de estudo.
“Os estudos de cortes populacionais estão a ser implementados com objectivo de seguirem grupos ao longo do tempo e fornecerem informações extremamente valiosas sobre a dinâmica da saúde da nossa população, e, dessa forma, compreender o impacto ao longo prazo de diversos factores como o estilo de vida, influências ambientais e intervenções na saúde. Estes sistemas populacionais de coortes têm o potencial de servir de base para condução de estudos, incluindo ensaios clínicos, testes de novas intervenções como o caso de vacinas. O CISM é um exemplo deste tipo de intervenções de sucesso no uso de coortes populacionais para inclusão de novas vacinas e fármacos que a posterior são integrados no Sistema Nacional da Saúde para melhorar a saúde das nossas populações”, referenciou Ivalda Macicame, Directora de Inquéritos e Observação de Saúde do INS.
Em relação ao Sistema de Vigilância Demográfica e de Saúde do CISM Ariel Nhacolo, Edgar Jamisse e Charfudin Sacoor apresentaram, durante o webinar, temas relacionados com a transição na estrutura demográfica e de fecundidade e os níveis de mortalidade, incluindo as principais causas de morte em crianças menores de cinco anos. Os pesquisadores comentaram que o CISM tem cedido dados a estudantes para uso em trabalhos de dissertação de mestrados e doutoramentos, principalmente os dados da vigilância, produzidos de forma rotineira (disponíveis electronicamente).
“Estamos em um momento de transformações demográficas significativas, com desafios complexos e oportunidades emergindo a cada dia. O CISM e os seus parceiros vão continuar a trabalhar nas plataformas de vigilância de demográficas para contribuir com dados precisos sobre as diferentes comunidades do nosso país e permitir a execução das pesquisas científicas na área de saúde, e não só. Nestes tempos, dados populacionais precisos e fiáveis são úteis em diferentes âmbitos, incluindo para uma melhor governação, pois podem ser usados para identificar necessidades específicas de grupos populacionais e atender a essas necessidades”, acrescentou Chafudin Saccor, responsável do Departamento de Demografia no CISM.
Lembrar que este ano, Moçambique passou a fazer parte da rede de Coortes Populacionais Africanas (APCC). O país representa os países africanos de língua oficial portuguesa no comité consultivo do APPC. A plataforma APPC impulsiona as iniciativas de coortes e explora interceções entre as áreas de saúde e as áreas de ciência de dados populacionais, para além de fortalecer as colaborações internacionais e encontra soluções inovadoras para o desenvolvimento tecnológicos e mecanismos de sustentabilidade para esta área.
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