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Nercio Machele

APE´S PODEM CONTRIBUIR NA GESTÃO E ENCAMINHAMENTO DE MULHERES COM PRÉ-ECLÂMPSIA


Sra. Beti Gueba, APE de Guijá (arquivo SISMAG)

A mortalidade materna é um dos maiores problemas de saúde pública em Moçambique. Em 2017 o país registou cerca de 452 mortes maternas em cada 100.000 nascimentos vivos. A demora no acesso aos serviços de saúde devido as longas distâncias, falta de transporte e a falta de poder de decisão são alguns dos factores que influenciam no acesso a cuidados de saúde durante a gravidez o que exige intervenções inovadoras a nível comunitário, num contexto em que existem poucas evidências sobre o papel dos Agentes Polivalentes Elementares (APEs) na partilha de tarefas para a identificação, gestão e encaminhamento de mulheres grávidas em caso de emergência e o nível de preparação do sistema de saúde a nível primário para a gestão de complicações da gravidez. Foi neste contexto que foi realizado um estudo recentemente publicado sob liderança de investigadores do CISM, nomeadamente, Dra. Esperança Sevene e Helena Boene. O artigo descreve a viabilidade da partilha de tarefas com os APEs para a identificação, gestão de emergência e encaminhamento de mulheres com pré-eclâmpsia e eclâmpsia.


Apesar de reconhecer que deve ser feito um esforço adicional para enfrentar os desafios ao nível do sistema de saúde, o estudo mostrou que a divisão de tarefas para triagem, manejo e pré-encaminhamento de pré-eclâmpsia e eclâmpsia é viável e aceitável a nível da comunidade mas algumas barreiras como a falta de equipamento, falta de supervisores, e disponibilidade irregular de medicamentos a nível do sistema de saúde que afectam a gestão adequada de gravidezes com complicações devem ser removidas. No entanto, os autores do estudo recomendam a realização de mais estudos para avaliar a capacidade dos APE´s de realizar tarefas complexas na identificação, gestão e encaminhamento de casos de emergência em mulheres grávidas, especificamente relacionadas com a pré-eclâmpsia e eclâmpsia.


O estudo, foi realizado nas províncias de Maputo e Gaza no âmbito do projecto CLIP. E segundo explica a Dra. Esperança Sevene, “os APE´s demonstraram competências e disponibilidade para realizar intervenções para prevenção da pré-eclâmpsia e eclâmpsia a nível das comunidades, apesar da reserva das partes interessadas a nível distrital, provincial e central cujo principal argumento é o tempo de formação necessário para que um profissional possa realizar tais intervenções. Este grupo de profissionais de saúde enfatizou a necessidade de formação e supervisão dos APEs antes da atribuição de tarefas complexas”. De acordo com a fonte, ainda há dúvidas em termos de sustentabilidade da iniciativa, uma vez que o Sistema Nacional de Saúde possui outros desafios, e com o fim do projecto CLIP, os APE´s deixaram de ter os equipamentos fornecidos.


Para avaliar os conhecimentos e competências dos APE´s para a realização novas tarefas foi entregue aos APE´s um aparelho para medir a tensão arterial de mulheres grávidas na comunidade, medicamentos anti-hipertensivos orais e injetáveis, um oxímetro para medir o nível de oxigénio no sangue, um cartaz informativo com as recomendações e orientações específicas, um tablet com um aplicativo que mediante os resultados de cada mulher informava sobre o tipo de medicação a ser administrada e se devia ou não referir a mulher a unidade sanitária mais próxima.


Ainda no âmbito do mesmo estudo, foi criada e implementada uma estratégia de transporte de base comunitária, conforme informa Helena Boene, investigadora estagiária no CISM, “foi identificado num estudo anterior por nós realizado, que um dos desafios para a busca atempada de cuidados de saúde por parte das mulheres grávidas em caso de emergência era a questão de falta de transporte, e nesta vertente, para tentar ultrapassar esta situação foi criada uma estratégia de transporte local na qual todas mulheres grávidas em situação de emergência poderiam usar. Os fundos para a implementação desta estratégia foram obtidos do projecto (CLIP) e das contribuições dos membros da comunidade e a sua gestão era feita por uma comissão a nível dos bairros”.


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