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ESTUDO EXPLORA DESAFIOS NO USO DA INVERMECTINA NO CONTROLO DE DOENÇAS TROPICAIS NEGLIGENCIADAS


Os resultados do estudo foram publicados na revista PLOS Neglected Tropical Diseases
Os resultados do estudo foram publicados na revista PLOS Neglected Tropical Diseases

As doenças tropicais negligenciadas (DTNs) continuam a representar um dos principais desafios para a saúde pública global, afectando sobretudo populações vulneráveis em áreas rurais e de baixa renda. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 1 bilhão de pessoas estão em risco de contrair uma ou mais doenças deste grupo, entre as quais se destacam a oncocercose, a linfaticofilariose, a esquistossomose, a tricuríase e várias outras infecções parasitárias, na sua maioria transmitidas pelo solo. Essas enfermidades não apenas comprometem a saúde e a qualidade de vida das pessoas afectadas, mas também geram impactos sociais e económicos consideráveis, perpetuando ciclos de pobreza e limitando o desenvolvimento sustentável das comunidades onde são endémicas.


A ivermectina é um dos medicamentos mais utilizados no controlo de várias doenças tropicais negligenciadas (DTNs), como a sarna, a estrongilodíase e a tricuríase). O fármaco é amplamente empregado em programas de administração massiva de medicamentos (MDA – Massive Drug Administration), que têm como objectivo reduzir a carga parasitária em populações inteiras, prevenindo complicações graves e interrompendo os ciclos de transmissão.


Tradicionalmente, a dosagem da ivermectina nesses programas tem sido calculada por meio do método conhecido como “dose pole”, que determina a quantidade de medicamento a ser administrada com base na altura do indivíduo. Embora este método apresente vantagens logísticas, estudos recentes têm apontado limitações importantes – especialmente em contextos onde há grande diversidade corporal e nutricional, o que pode comprometer a precisão da relação entre altura e peso.


Nesse contexto, um estudo publicado na revista PLOS Neglected Tropical Diseases, intitulado “Fixed-dose ivermectin for Mass Drug Administration: Is it time to leave the dose pole behind?”, apresenta uma análise detalhada sobre a utilização da ivermectina em dose fixa nos programas de MDA. A pesquisa, conduzida por uma equipa internacional de cientistas – entre eles a pesquisadora do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), Áuria de Jesus – realizou uma meta-análise de dados individuais de participantes provenientes de diversos ensaios clínicos conduzidos em regiões endémicas.


Segundo Áuria de Jesus, “os resultados demonstraram que a eficácia da ivermectina varia consideravelmente entre indivíduos, dependendo de factores como peso corporal, altura, idade e condições de saúde. Essa variabilidade sugere que a prática actual, baseada no peso e altura pode levar à subdosagem, comprometendo a efectividade dos programas de controlo”.


Áuria de Jesus Dava, Pesquisadora do CISM
Áuria de Jesus Dava, Pesquisadora do CISM

A subdosagem pode permitir que parasitas sobrevivam, perpetuando a transmissão da doença em determinadas áreas, enquanto a sobredosagem pode aumentar o risco de efeitos adversos e comprometer a confiança das comunidades nos programas de MDA. E de acordo com de Jesus, esses achados reforçam a necessidade de repensar os protocolos de dosagem, considerando abordagens baseadas em doses fixas ajustadas por faixa etária. Ainda segundo a pesquisadora, essas estratégias adaptadas poderiam optimizar o uso de recursos durante as campanhas de MDA, assegurar a administração da dose terapêutica adequada, reduzir a ocorrência de subdosagem generalizada e aumentar significativamente a proporção de indivíduos tratados adequadamente – ampliando, deste modo, o impacto na redução da prevalência de DTNs.


O estudo também destaca a importância da colecta de dados detalhados e da vigilância epidemiológica contínua. “Compreender como a resposta individual à ivermectina varia entre diferentes grupos etários permite ajustar os programas de MDA de forma dinâmica, tornando-os mais eficazes e sustentáveis. Por outro lado, esta pesquisa oferece uma perspectiva crítica sobre práticas consolidadas, incentivando a inovação na implementação de programas de saúde pública e na gestão de doenças endémicas em contextos complexos”, conclui a pesquisadora.


Este estudo reforça a importância de integrar a pesquisa científica, o planeamento de políticas de saúde e as estratégias de implementação, de modo a garantir que as decisões sejam baseadas em evidências sólidas e adaptadas às realidades locais. A personalização das doses de ivermectina de acordo com o grupo etário, aliada à adaptação de programas de MDA, tem potencial para maximizar os benefícios do tratamento, reduzir a transmissão de doenças e contribuir para a eliminação de DTNs em regiões de alta endemicidade.

 

Referências

Echazu A, Bonanno D, Fleitas PE, Jacobson J, Matamoros G, et al. (2025) Fixed-dose ivermectin for Mass Drug Administration: Is it time to leave the dose pole behind? Insights from an Individual Participant Data Meta-Analysis. PLOS Neglected Tropical Diseases 19(9): e0013059. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0013059

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