EXPLORANDO A DIVERSIDADE GENÉTICA DO MOSQUITO ANOPHELES FUNESTUS: NOVOS CAMINHOS NO COMBATE À MALÁRIA EM ÁFRICA

Mosquitos anopheles capturados ao domicílio no distrito da Manhiça

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, em 2023, ocorreram aproximadamente 263 milhões de casos de malária em 83 países endémicos, resultando em cerca de 597 mil mortes. A região africana continua a suportar a maior carga global da doença, concentrando cerca de 94% dos casos e 95% dos óbitos. Entre os principais mosquitos vectores da malária no continente, destaca-se o Anopheles funestus, responsável pela transmissão intensa e persistente, influenciada por factores climáticos locais e oportunidades para a reprodução larval.

Neste contexto, um estudo publicado na conceituada revista Science, liderado pela investigadora Marilou Boddé, do Wellcome Sanger Institute (Reino Unido) – e que contou com a participação de uma investigadora do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), e de outros pesquisadores de diversas instituições internacionais – apresenta uma análise aprofundada sobre a diversidade genética de Anopheles funestus, utilizando tecnologias avançadas de sequenciamento gnômico.

A pesquisa, intitulada “Genomic diversity of the African malaria vector Anopheles funestus”, identificou variações significativas entre populações do mosquito em diferentes regiões, que podem influenciar tanto a resistência a inseticidas quanto a eficiência na eficácia das medidas de controlo vectorial.

Segundo Mara Máquina, uma das envolvidas na pesquisa em Moçambique, “compreender a diversidade genética é essencial para prever alterações na estrutura das populações de vectores,  no seu comportamento e, assim, adaptar intervenções de forma mais precisa, aumentando a eficácia das medidas de prevenção e controlo”.

Para Máquina, a publicação deste artigo representa um avanço significativo no conhecimento sobre Anopheles funestus, fornecendo informações valiosas para cientistas, autoridades de saúde e formuladores de políticas públicas. Mas também destaca que “este estudo evidencia a importância de integrar dados locais com análises genômicas avançadas. Ao fazê-lo, o CISM contribui para o desenvolvimento de políticas de saúde pública baseadas em evidências científicas robustas, promovendo intervenções mais direcionadas e eficientes, sobretudo no controlo de vectores.”

À medida que a resistência aos inseticidas se torna um desafio crescente, estudos como este são cruciais para o desenvolvimento de estratégias adaptadas às características específicas das populações locais de vectores, fortalecendo a luta contra a malária em África. Este estudo não apenas amplia o entendimento sobre a doença, mas também reforça a importância da pesquisa científica local na busca por soluções para problemas de saúde pública.

Importa recordar que o CISM dispõe de uma unidade laboratorial especializada no estudo do papel dos mosquitos na transmissão de doenças em humanos, bem como no monitoramento da eficácia de ferramentas de controlo vectorial – uma componente essencial para apoiar a implementação de estratégias de combate à malária baseadas em evidências. 

Referência:

• Boddé M, Nwezeobi J, Korlević P, Makunin A, Akone-Ella O, Barasa S, Gadji M, Hart L, Kaindoa EW, Love K, Lucas ER, Lujumba I, Máquina M, Nagi SC, Odero JO, Polo B, Sangbakembi C, Dadzie S, Koekemoer LL, Kwiatkowski D, McAlister E, Ochomo E, Okumu F, Paaijmans K, Tchouassi DP, Wondji CS, Ayala D, Durbin R, Miles A, Lawniczak MKN. Genomic diversity of the African malaria vector Anopheles funestus. Science. 2025 Sep 18;389(6766):eadu3596. doi: 10.1126/science.adu3596. Epub 2025 Sep 18. PMID: 40966334.