top of page

FACE AOS DESAFIOS IMPOSTOS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, INVESTIGADORES PROPÕEM INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NO CONTROLO DE VECTORES

Equipa da entomologia montando armadilhas para captura de mosquitos em residências
Equipa da entomologia montando armadilhas para captura de mosquitos em residências

O Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), em coordenação com o Programa Nacional de Controlo da Malária (PNCM) e outros parceiros, assinalou o Dia Mundial do Mosquito com a realização de um webinar que juntou especialistas de Moçambique, Portugal, Brasil e Cabo Verde. A data, celebrada a 20 de Agosto, marca a descoberta feita em 1897 pelo médico britânico Sir Ronald Ross, que identificou os mosquitos do género Anopheles como vectores da malária, um marco que transformou a saúde pública mundial e abriu caminho para as primeiras estratégias eficazes de combate à doença.


O encontro virtual serviu de palco para apresentação de resultados de investigação, partilha de novas ferramentas tecnológicas e debate em torno dos desafios acrescidos que as mudanças climáticas colocam na luta contra os mosquitos e as doenças que transmitem. De forma consensual, os oradores defenderam que o futuro do controlo vectorial deve assentar na combinação de ciência de ponta, envolvimento comunitário e políticas públicas mais robustas.


Na abertura, a entomologista do CISM, Mara Máquina, sublinhou a diversidade de espécies de mosquitos e o seu peso na saúde global. Anopheles, Aedes, Culex, Mansónia, Psorophora e Wyeomyia continuam a ser responsáveis por milhares de mortes anuais. O cenário torna-se ainda mais complexo devido a crescente resistência aos insecticidas e às alterações ambientais que favorecem a sua proliferação.


Seguiu-se a intervenção de Inês António, responsável pelo controlo de vectores do PNCM, que apresentou a experiência moçambicana em prevenção comunitária da malária. Alertou, porém, que as alterações climáticas podem comprometer os ganhos já alcançados, aumentando o risco de entrada de novos vectores no país, como o Anopheles stephensi, asociado a novas formas de transmissão em diferentes regiões do mundo.


De seguida, a investigadora brasileira Flávia Virginio, actualmente na Universidade da Florida, trouxe uma reflexão sobre factores como urbanização, precariedade sanitária e uso do solo, que favorecem a proliferação de mosquitos. A cientista defendeu um maior investimento em métodos biológicos – como o uso de peixes, plantas e bactérias – e insistiu na importância da educação e sensibilização comunitária. Partilhou ainda resultados de estudos sobre morfometria de asas, essenciais para distinguir espécies, e deixou recomendações práticas, incluindo referências científicas de acesso aberto. Para Flávia, só com mais investimento em abordagens interdisciplinares e da promoção de práticas de consumo sustentável será possível enfrentar o problema de forma duradoura.


O professor Henrique Silveira, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, apresentou por sua vez um leque de inovações tecnológicas. Entre elas, destacou-se uma dieta artificial que dispensa o uso de sangue na criação de mosquitos em laboratório, uma ferramenta com potencial de revolucionar a investigação entomológica. Silveira expôs ainda os resultados de um ensaio com o repelente IR3535, que revelou impacto significativo na redução da densidade de Anopheles funestus, embora sem efeito estatisticamente relevante na prevalência da malária. O académico destacou ainda novas linhas de pesquisa sobre bactérias endossimbiontes modificadas, capazes de travar a capacidade dos mosquitos em transmitir doenças.


A sessão encerrou com a apresentação de Adilson José Pina, do Ministério da Saúde de Cabo Verde, que partilhou a experiência do país. Pina alertou para o impacto directo das mudanças climáticas na dinâmica dos vectores e defendeu o reforço da vigilância entomológica, sobretudo após eventos extremos, como as recentes enxurradas. O investigador apelou à implementação de medidas de adaptação que reduzam riscos e garantam a manutenção do estatuto de país livre de malária.


Mais do que um debate científico, o webinar lançou uma mensagem inequívoca: o controlo de mosquitos não pode assentar apenas no uso de insecticidas ou em soluções tecnologias isoladas. É preciso investir na educação das comunidades, sensibilizar as novas gerações e apostar em estratégias inovadoras que integrem ciência, sociedade e políticas públicas. Só assim será possível enfrentar, de forma eficaz, os desafios impostos pelas mudanças climáticas e travar o avanço das doenças transmitidas por mosquitos.

Comentários


Endereços e contactos

SEDE, MANHIÇA, BAIRRO CAMBEVE

Rua 12, CP 1929

Telf: (+258)  82 316 85 30 /  84 398 68 23

fundacao.manhica@manhica.net

ESCRITÓRIO DA CIDADE DE MAPUTO

Avenida Cahora Bassa, Nº 92

ESCRITÓRIO DE QUELIMANE

Av. da Libertação Nacional nr 1035, Unidade de Sinacura

Email: dinoca.gesse@manhica.net

ESCRITÓRIO DE MOPEIA

Rua Principal, Mopeia Sede

(Enfrente a praça dos trabalhadores)

Email: humberto.munguambe@manhica.net 

Uma iniciativa de

bottom of page