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HIPERTENSÃO – UM MAL SILENCIOSO QUE AFECTA MULHERES MOÇAMBICANAS

Um estudo recentemente publicado alerta o aumento de casos de hipertensão entre mulheres moçambicanas em idade reprodutiva.
Um estudo recentemente publicado alerta o aumento de casos de hipertensão entre mulheres moçambicanas em idade reprodutiva.

A hipertensão arterial é hoje um dos principais factores de risco para doenças cardiovasculares, que vêm ganhando peso no perfil epidemiológico africano – historicamente dominado pelas doenças infecciosas. Em Moçambique, estudos anteriores já apontavam que cerca de 30% dos adultos podiam ser hipertensos, com tendência crescente sobretudo nas áreas urbanas. Entre as mulheres, a situação assume um contorno ainda mais delicado: durante a gravidez, a hipertensão pode evoluir para complicações graves como a pré-eclâmpsia, colocando em risco a vida da mãe e do bebé.


Um estudo conduzido por investigadores do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM) e seus parceiros, publicado recentemente no Bulletin of the World Health Organization, alerta para uma realidade preocupante: o aumento de casos de hipertensão entre mulheres moçambicanas em idade reprodutiva.


A investigação fez parte do projeto PRECISE (PREgnancy Care Integrating translational Science, Everywhere), que abrangeu Moçambique, Gâmbia e Quénia. No total foram avaliadas 1.825 mulheres não grávidas e 6.770 mulheres grávidas. Os resultados revelaram que 10,4% das mulheres moçambicanas não grávidas em idade fértil apresentam hipertensão clinicamente confirmada – uma taxa significativamente superior à registada no Quénia (4,6%) e próxima da observada na Gâmbia (9,3%).


Outro dado importante destacado pelo estudo é a discrepância entre a realidade clínica e a percepção individual: “apenas 4,2% das mulheres moçambicanas declararam espontaneamente sofrer de hipertensão, quando, na verdade, 17% apresentaram pressão arterial elevada. Isso mostra que a maioria das mulheres com hipertensão não tem consciência do problema ou nunca recebeu um diagnóstico formal”, refere Esperança Sevene, Investigadora Sénior do CISM e líder do estudo em Moçambique.


O estudo mostrou também que entre as mulheres grávidas, o cenário é igualmente preocupante apenas 2,7% das mulheres grávidas moçambicanas relataram ter hipertensão, valor muito inferior ao observado clinicamente. “O problema é que ainda dependemos de auto-relatos em inquéritos nacionais, o que mascara a verdadeira dimensão da hipertensão nas mulheres jovens. É necessário medir a pressão arterial em todas as consultas de saúde materna, para não perdermos a oportunidade de diagnóstico e manejo precoce”, explica Esperança Sevene.


Os dados do estudo PRECISE revelam ainda características sociais e de estilo de vida que ajudam a contextualizar os números. A maioria das mulheres avaliadas em Moçambique vive em zonas rurais e está envolvida em actividades manuais, sobretudo na agricultura – principal meio de subsistência em distritos como Manhiça, onde decorreu o estudo.


Dados do estudo destacam que é preciso reforçar o rastreio da hipertensão nos cuidados de saúde primários
Dados do estudo destacam que é preciso reforçar o rastreio da hipertensão nos cuidados de saúde primários

De acordo com Sevene, “estes resultados expõem uma lacuna crítica: os inquéritos de saúde que dependem da memória ou percepção das participantes não captam adequadamente a prevalência real da hipertensão. Isso significa que as políticas nacionais podem estar a subestimar um problema de saúde pública crescente”.


Em Moçambique, tal como em muitos outros países africanos, a vigilância em saúde pública foi historicamente estruturada para combater doenças infecciosas como o HIV, a malária e a tuberculose. No entanto, as doenças não transmissíveis (DNTs), entre elas a hipertensão, diabetes e cancro, estão a emergir como um dos maiores desafios de saúde do século XXI.


A Organização Mundial da Saúde recomenda a abordagem STEPwise, que combina auto-relatos com medições biomédicas padronizadas de pressão arterial. A adopção deste método permitiria a Moçambique alinhar-se com as melhores práticas internacionais e identificar precocemente mulheres em risco.


O grupo de autores deste estudo defende que é urgente reforçar o rastreio da hipertensão nos cuidados de saúde primários, com especial atenção às consultas de planeamento familiar e pré-natal. É também necessário capacitar os profissionais de saúde para reconhecer e tratar a hipertensão em mulheres jovens, quebrando a ideia de que esta é uma doença exclusiva de pessoas idosas. Para além disso, torna-se essencial integrar a prevenção das doenças não transmissíveis nos programas de saúde materna e infantil e intensificar as campanhas de sensibilização dirigidas à população em geral, promovendo a medição regular da pressão arterial como prática preventiva de rotina.


Referência

2 comentários


Florencia Cossa
03 de nov.

Artigo bastante interessante. Como mulher jovem moçambicana sinto-me mais informada ao encontrar artigos com esta qualidade e baseados em resultados de pesquisa realizada no nosso contexto. Bem haja ao CISM e seus investigadores.

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Convidado:
11 de set.

Excelente trabalho CISM,parabéns.

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