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Nercio Machele

PICADAS POR COBRAS REPRESENTAM ALTO RISCO À SAÚDE EM MOPEIA


Foto da internet

Um Inquérito Demográfico realizado em 2021, no âmbito do projecto BOHEMIA, implementado no distrito de Mopeia (Zambézia) pelo Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), sob a coordenação do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e financiado pela UNITAID, detectou uma incidência de cerca de 400 picadas de cobras em cada 100.000 habitantes do distrito de Mopeia, o que representa um risco para o sistema de saúde local.


O inquérito que contou com a participação de pesquisadores do CISM e do ISGlobal, tinha como principal objectivo, fornecer aos decisores locais dados descritivos sobre a carga de picadas de cobra em Mopeia, especificamente, a incidência de envenenamento por picada de cobra recolhidos retrospectivamente através de um inquérito comunitário. O mesmo, antecedeu a implementação do projecto BOHEMIA que realizou a administração massiva de ivermectina para reduzir a transmissão da malária.

A picada de cobras pode levar à perda de mais de 3.000 dias de trabalho

Os resultados publicados na revista PLOS, indicam que a picada de cobras no distrito pode levar à perda de mais de 3.000 dias de trabalho ou escola, mas também, que os custos de tratamentos resultantes da picada de cobras que representa o peso económico médio por agregado familiar foi de cerca de 1.100 meticais (17 dólares) o que representa quase 5 vezes o custo dos casos de malária não complicados.

Mopeia tem um elevado peso da malária, HIV, Tuberculose e outras doenças transmissíveis

Mopeia, tem uma superfície de 7.671 km² e está naturalmente dividido entre as terras altas do Norte e as várzeas do Sul e tal como noutras zonas rurais de Moçambique, Mopeia tem um elevado peso da malária, HIV, Tuberculose e outras doenças transmissíveis. Tal como outras regiões do país, a grande maioria da população de Mopeia pratica a agricultura para viver, o que acaba por expor milhões de pessoas a picadas de cobra, principalmente na época chuvosa.


De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 80.000 pessoas morrem todos os anos devido a picadas de cobras, causando mais amputações e outras incapacidades permanentes, sendo os trabalhadores agrícolas e as crianças são os mais afectados. As picadas de cobras venenosas podem causar paralisia que pode impedir a respiração, distúrbios hemorrágicos que podem levar a uma hemorragia fatal, insuficiência renal irreversível e danos nos tecidos que podem causar incapacidade permanente e amputação de membros.


A OMS, divide as cobras venenosas de importância ou relevância médica em duas categorias. A primeira, é constituída por cobras altamente venenosas e que causam numerosas picadas resultando em elevados níveis de morbilidade, incapacidade ou mortalidade. A segunda categoria, é composta por cobras altamente venenosas capazes de causar morbidade, invalidez ou morte, mas: (a) para o qual as informações epidemiológicas ou clínicas exactas podem faltar dados; e/ou (b) são menos frequentemente implicados (devido aos seus ciclos de actividade, comportamento, preferências de habitat ou ocorrência em áreas remotas de grandes populações humanas). O inquérito, registou cerca de 6 espécies diferentes de alta importância médica, nomeadamente: Víbora do Gabão, Mamba Verde, Mamba Negra, Cobra de Focinho, Cobra Cuspidora de Moçambique, entre outras de média importância médica (conforme a tabela abaixo).


Referências: O’Bryan E, Imputiua S, Elobolobo E, Nicolas P, Montana J, et al. (2023) Burden and risk factors of snakebite in Mopeia, Mozambique: Leveraging larger malaria trials to generate data of this neglected tropical disease. PLOS Neglected Tropical Diseases 17(8): e0011551. https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0011551

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