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DA MATOLA “C” AO MUNDO: A MÉDICA QUE SONHA, ACREDITA E CONQUISTA

Amélia Honwana, pesquisadora da área da Tuberculose no CISM
Amélia Honwana, pesquisadora da área da Tuberculose no CISM

“Sonhei, acreditei e consegui!” é desta forma que Amélia Honwana, jovem investigadora do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça (CISM), resume o seu percurso, feito de foco, sacrifícios e coragem. Natural da Matola “C”, formada em Medicina na Rússia, Amélia é um dos rostos da nova geração de mulheres moçambicanas que ousam ocupar espaço na ciência, mesmo quando as condições parecem desfavoráveis.


A sua história começa como a de muitos jovens: fez o ensino primário na Escola Maria Mogas, seguiu para a Escola Secundária da Matola e, ainda adolescente, alimentava já o sonho de se tornar médica. “Na 12ª classe candidatei-me às universidades públicas, mas não consegui entrar em Medicina. Iniciei Química na UP, enquanto aguardava por outras oportunidades. Foi então que concorri a uma bolsa de estudos. Para minha surpresa, fui admitida logo na primeira vez, com uma bolsa de 7 anos para a Rússia”, conta.


Longe da sua terra, Amélia enfrentou o primeiro grande desafio: adaptar-se a um novo país, uma língua completamente diferente e um sistema de saúde distante da realidade moçambicana. “Estudar fora tem vantagens, mas também muitas desvantagens. Ao regressar, senti a necessidade de reaprender, de mergulhar na nossa realidade. Fiz um estágio não remunerado no Hospital Central de Maputo para ter contacto com as doenças mais comuns em Moçambique.”


Esse esforço de adaptação não tardou a ser posto à prova. Com a pandemia da COVID-19, foi chamada para a linha da frente no Centro de Saúde da Polana Caniço. Poucos meses depois, em Setembro de 2021, ingressava no CISM, primeiro em Mopeia, no projecto Bohemia, e depois na Manhiça, na área da tuberculose. “Alguns perguntavam: como é que alguém que estudou na Rússia vai directamente para Mopeia? Mas eu sempre vi os desafios como oportunidades. Ali encontrei uma realidade dura de pobreza e longas distâncias, mas cresci muito como médica e como pessoa.”

A Jovem pesquisadora tem 29 anos de idade, a mesma idade que do CISM
A Jovem pesquisadora tem 29 anos de idade, a mesma idade que do CISM

Na Manhiça, os desafios ganharam nova dimensão: conciliar funções clínicas intensas com a coordenação de estudos, num ritmo acelerado de escalas e múltiplas responsabilidades. Mas foi também aí que Amélia encontrou inspiração noutras mulheres. “A Dra. Tacilta é uma grande referência para mim, pela sua dedicação. E a Caroline, com quem trabalhei em Mopeia, mostrou-me que sim, é possível uma jovem mulher liderar uma componente importante de uma pesquisa.”


Ser mulher na ciência, no entanto, não é simples. “Não é fácil, sobretudo porque a pesquisa exige constante movimento, mudanças de lugar, o que pode enfraquecer laços familiares. Mas sempre tive espírito aventureiro. Se acredito que é o caminho certo, sigo em frente. E quem fica, é porque realmente importa.”

Recentemente ganhou a bolsa Chevening,

Recentemente, Amélia alcançou mais uma grande conquista: foi seleccionada para a prestigiada bolsa Chevening, do governo britânico, e vai frequentar a Liverpool School of Tropical Medicine. “A chave foi a preparação. Um ano antes já sabia quais documentos precisava, comecei a treinar inglês e preparei a minha narrativa. Muitas vezes as pessoas têm medo da língua, mas é possível superar. O segredo está em começar cedo.”


Para além da preparação, Amélia acredita que a forma como contou a sua história foi decisiva. “Muita gente faz trabalhos extraordinários, mas não sabe comunicar. Eu procurei sempre mostrar o impacto real na comunidade: quantas pessoas foram beneficiadas, o que mudou, qual foi a minha contribuição. Por exemplo, apresentei o caso da campanha de vacinação contra a COVID-19 em Mopeia, incluindo dados numéricos. Não basta dizer ‘eu fiz’. É preciso ligar a acção ao impacto.”


No futuro próximo, Amélia quer regressar mais capacitada e pronta para influenciar políticas de saúde e liderar ensaios clínicos em Moçambique. “Quero aplicar aqui o que aprender em Liverpool. O meu compromisso é com a comunidade. Sempre acreditei no princípio de ‘give back to the community’. Não quero que esta bolsa seja apenas uma conquista pessoal, mas um contributo real para o país.”

Eu sou prova de que é possível.

A jovem médica aproveita para deixar um conselho às mulheres que, como ela, sonham com bolsas de estudo e carreiras na ciência. “É preciso correr atrás das oportunidades. Preparar-se com antecedência e procurar orientação de quem já passou pelo processo. E, sobretudo, não ter medo. Se olharmos para o país, a maioria dos líderes de equipas de pesquisa são homens. Isso não é um problema em si, mas nós, mulheres, também devemos ocupar esses espaços. Podemos e devemos! Eu sou prova de que é possível.”


Amélia simboliza, assim, uma geração de mulheres moçambicanas determinadas a transformar a ciência em ferramenta de mudança social. O seu percurso inspira não apenas pelo esforço individual, mas pela visão clara de que o verdadeiro valor da investigação está no impacto concreto que gera nas comunidades.

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há 28 minutos

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