ESTUDO MOSTRA PREVENÇÃO EFICAZ DA MALÁRIA EM MULHERES GRÁVIDAS APESAR DA RESISTÊNCIA À MEDICAMENTOS
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ESTUDO MOSTRA PREVENÇÃO EFICAZ DA MALÁRIA EM MULHERES GRÁVIDAS APESAR DA RESISTÊNCIA À MEDICAMENTOS

Atualizado: 19 de abr.


Um estudo realizado no sul de Moçambique mostra que a SP mantém a actividade parasitológica e a eficácia clínica e pode continuar a ser utilizada na quimioprevenção da malária, mesmo em zonas com elevada prevalência de marcadores de resistência aos medicamentos.


A sulfadoxina-pirimetamina (SP) mantém a actividade parasitológica e continua a ser eficaz na prevenção da infeção por P. falciparum em mulheres grávidas e bebés de baixo peso à nascença, mesmo em zonas com elevada prevalência de mutações associadas à marcadores de resistência à SP. Esta é a principal conclusão de um estudo realizado no sul de Moçambique e liderado pelo Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM) e pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal).


O fornecimento de tratamento preventivo anti-malárico a mulheres grávidas e crianças com menos de cinco anos, independentemente de estarem ou não infectadas, é uma estratégia eficaz para reduzir o fardo da malária nestas duas populações altamente vulneráveis. Nas mulheres grávidas, as doses mensais de SP após o primeiro trimestre demonstraram ser seguras e eficazes na redução das consequências graves da malária nas mães e nos seus bebés, incluindo os baixo peso à nascença. No entanto, existe uma preocupação com a crescente prevalência de parasitas da malária que transportam uma série de mutações que diminuem a eficácia da sulfadoxina-pirimetamina. Especificamente, cinco mutações em dois genes (mutações quíntuplas) estão associadas à resistência à SP para o tratamento da malária.


"Curiosamente, mesmo em zonas onde a prevalência de mutações quíntuplas é elevada, a SP para quimioprevenção parece continuar a proporcionar um benefício às mulheres grávidas", afirma Alfredo Mayor, investigador do ISGlobal e do CISM. "Não é claro se este benefício se deve a outros efeitos não-maláricos da sulfadoxina (que também actua como antibiótico), ou se ainda existe um efeito directo nas infecções por malária", acrescenta.


Em resposta, Glória Matambisso e outros entrevistadores pesquisaram infecções de malária, anticorpos, marcadores de resistência do parasita e resultados clínicos ao longo de três anos num total de 4.016 mulheres grávidas no sul de Moçambique.


A SP mantém a actividade antiparasitária

Apesar do facto de 94% das mulheres infectadas na primeira consulta pré-natal serem portadoras de mutações quíntuplas, o tratamento preventivo com SP (IPTp-SP) manteve-se eficaz naquelas que tomaram três ou mais doses de sulfadoxina-pirimetamina durante a gravidez (84% das participantes). Especificamente, estas mulheres apresentaram uma maior eliminação das infecções por P. falciparum (a prevalência de mulheres infectadas diminuiu de 7,7% na primeira visita para 1,9% no parto); apresentaram uma menor prevalência de anticorpos resultantes da colonização da placenta pelo parasita; e os seus bebés tiveram um peso superior ao nascer, em comparação com as mulheres que tomaram menos de três doses de SP.


"Os nossos resultados sugerem que a SP mantém a actividade contra os parasitas portadores destas cinco mutações e que o benefício observado não se deve apenas às propriedades antibióticas da sulfadoxina", afirma Glória Matambisso, investigadora do CISM e primeira autora do estudo. Por outras palavras, o efeito parasitológico sustentado da SP para eliminar as infecções de malária, combinado com as propriedades antibióticas da sulfadoxina, pode explicar porque é que a IPTp-SP continua a ser benéfica mesmo em áreas onde a mutação quíntupla é dominante. Os autores concluem que, até se encontrarem alternativas mais eficazes, a sulfadoxina-pirimetamina deve continuar a ser utilizada para a quimioprevenção da malária em mulheres grávidas.


"Esta é uma boa notícia” diz Mayor. Mas o facto de muitas das participantes terem ido à sua primeira consulta pré-natal na 21ª semana (em vez de durante o primeiro trimestre, como recomendado) e de 16% delas não terem recebido três ou mais doses de SP significa que ainda existem grandes barreiras ao sucesso da implementação do IPTp. "Temos de reforçar as nossas capacidades operacionais para fornecer quimioprevenção atempada às mulheres grávidas", acrescenta.

 

Referência

Matambisso G, Brokhattingen N, Maculuve S et al. Efeitos parasitológicos e clínicos da quimioprevenção da malária com sulfadoxina-pirimetamina em mulheres grávidas do sul de Moçambique. J Infection. 2024. Doi: 10.1016/j.jinf.2024.106144

 

 

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