“AUTOMEDICAÇÃO É UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DA RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA”
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“AUTOMEDICAÇÃO É UMA DAS PRINCIPAIS CAUSAS DA RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA”

Atualizado: 24 de abr.

Além da automedicação, pacientes normalizam a interrupção da medicação, ao se sentirem melhor, não cumprindo a dose terapêutica, o que facilita ao agente causador adquirir resistência.



Esta foi a constatação feita pelo Dr. Inácio Mandomando, Investigador Sénior e Coordenador da Área de Doenças Bacterianas, Virais e Tropicais Negligenciadas no Centro de Investigação em Saúde de Manhiça, CISM, e Embaixador da  Sociedade Americana para Microbiologia (ASM) em Moçambique, durante uma Palestra híbrida, realizada no dia 05 de Março, sobre a Experiência do CISM Pesquisa sobre Resistência Antimicrobiana e Saúde Única numa Zona Rural do Sul de Moçambique, organizada pela Universidade Save (UniSave), em Xai-Xai. 


O investigador, proferiu uma palestra à comunidade académica da UniSave sobre os seus últimos 20 anos de pesquisa em microbiologia, em particular em doenças diarreicas, infecções bacterianas invasivas, incluindo estudos de resistência antimicrobiana, ensaios clínicos e muito recentemente vigilâncias ambientais e em animais, estudos realizados pelo CISM sob sua liderança. Mandomando é também investigador principal do CHAMPS (programa de Vigilância da Saúde Infantil e da Prevenção da Mortalidade) em Moçambique e tem cerca de 190 artigos publicados em revistas com revisão por pares de renome internacional e liderou mais de 20 projectos de pesquisa na qualidade de investigador principal, desde estudos epidemiólogos, vigilâncias e distintos ensaios clínicos para investigação de novas combinações de fármacos e de vacinas, a destacar a vacina trivalente conjugada contra Salmonella. 


A resistência antimicrobiana (RAM) é a perda de sensibilidade de um microorganismo a um medicamento antimicrobiano ao qual inicialmente era susceptível. A RAM ocorre quando microrganismos (bactérias, fungos, vírus e parasitas) sofrem alterações quando expostos a antimicrobianos (antibióticos, antifúngicos, antivirais, antimaláricos ou anti-helmínticos), como resultado, os medicamentos se tornam ineficazes e as infecções persistem, aumentando o risco de propagação a outras pessoas.


Dados publicados por um Consórcio Internacional de Pesquisa em Antimicrobianos ilustram que em 2019, 4.95 milhões de mortes foram associadas à resistência antimicrobiana (das quais 1.27 milhões foram atribuídas à RAM). Uma sub-análise específica para África mostrou que no mesmo ano, ocorreram 1.3 milhões de mortes associadas à RAM (cerca de 250 mil mortes atribuídas à RAM), das quais um dos maiores pesos ocorre na região Ocidental da África Subsaariana onde a resistência antimicrobiana é responsável em 27.3 mortes em cada 100.000 habitantes. A nível global, os seis principais agentes patogénicos responsáveis pelas mortes associadas à RAM (Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae, Streptococcus pneumoniae, Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa) foram responsáveis por 929.000 (660.000 - 1.270.000) mortes atribuíveis à RAM e 3.57 milhões (2.62-4.78) de mortes associadas à RAM em 2019. Em África, as principais doenças relacionadas à RAM que levaram à morte foram as pneumonias e infecções do tórax (119 mil), bacteremias (56 mil), infecções intra-abdominais (26 mil) e tuberculose (18 mil). Os principais agentes em África foram Streptococcus pneumoniae, Klebsiella pneumoniae, Escherichia coli e Staphylococcus aureus, que individualmente foram responsáveis por mais de 100 mil mortes.


O Reitor da Universidade Save, o Prof. Doutor Manuel José de Morais, agradeceu a presença do palestrante e sua equipa, por terem visitado e partilhado sua experiência com a comunidade universitária, pois, o evento visava incentivar a partilha de conhecimento. Desta forma, o Reitor espera que este seja “o primeiro de vários eventos e o mesmo propicie um ambiente e oportunidade de mais colaborações e parcerias”, acrescentou.


A Vice-Reitora, Profª Doutora Catarina Tivane Nhamposse, disse que a visita se enquadra na política da Universidade de buscar parcerias junto de outras instituições nacionais e internacionais para troca de experiência, destacando que “o primeiro contacto foi em Junho 2023, quando estudantes dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia visitaram o CISM, onde se inteiraram das actividades da instituição, sendo o segundo momento a visita da nossa direcção científica. Portanto, este é o terceiro momento de contacto com esta instituição”. Segundo a Vice-Reitora, a Universidade já iniciou a sua candidatura para fazer parte da rede contra a resistência antimicrobiana.


Os participantes reflectiram sobre a falta de registos e de controlo da aquisição de antibióticos a todos níveis, incluindo, por parte das farmácias, dos pacientes que adquirem medicamentos mesmo sem receita médica e da necessidade de encontrar mecanismos para minimizar a automedicação. Outra reflexão mencionada pelos participantes foi a possibilidade da contribuição dos tratamentos tradicionais à resistência antimicrobiana.


Em termos de mecanismos de divulgação dos resultados das pesquisas incluindo com as autoridades de saúde, o palestrante referenciou que o CISM faz parte da Plataforma de Mortalidade, onde estão representadas várias intuições de interesse, assim como em plataformas de comunicação online do CISM (website e redes sociais), e realiza eventos de divulgação, tais como o Simpósio Anual em Saúde Global da Fundação Manhiça e Webinars. A divulgação estende-se até ao nível das autoridades locais e da própria comunidade.


O Embaixador da ASM, instituição que visa promover e fazer avançar as ciências microbianas, visitou as instalações da Universidade Save, momento que considerou “uma oportunidade de colaboração para alavancar a pesquisa feita na Manhiça, para termos também de Maxixe. Agora vamos trabalhar para ver oportunidades de financiamento para projectos futuros”.




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