Esta neste momento a decorrer pela primeira vez, em Cabo Delgado, a implementação programática de Administração Massiva de Tratamento (em inglês designado por Mass Drug Administration – MDA). Esta intervenção baseada na experiência obtida em Magude no âmbito do Projecto MALTEM visa avaliar a cobertura e impacto da administração massiva de tratamento contra a malária usando Dihidroartemisina-Piperaquina no contexto de emergência na província de Cabo Delgado, Norte de Moçambique.
A província de Cabo Delgado apresenta uma das mais altas prevalências de malária em Moçambique e enfrenta desafios únicos e extremos para prestar serviços de saúde. Desde 2017 que a província regista conflitos armados devido a presença de insurgentes e em 2019 a província foi afetada pelo ciclone Kenneth. Ambos eventos resultaram na destruição e encerramento de várias unidades sanitárias para além da migração de pessoas de um distrito para outro, com a consequente a criação de campos de acolhimento, dificultando o acesso a serviços básicos e essenciais de saúde.
Numa entrevista conjunta na qual participaram o Director do Programa Nacional de Controlo da Malária, Dr. Baltazar Candrinho e o Coordenador da Área de Malária e Investigador no Centro de Investigação em Saúde de Manhiça, Dr. Pedro Aide, falaram-nos sobre porque e como o PNCM e seus parceiros levam a cabo esta actividade e o que esperam alcançar.
Em dois distritos do norte do país, na província de Cabo Delgado, Metuge e Ilha do Ibo, o PNCM para tratar de combater a malária, em regiões desprovidas de serviços de saúde essenciais, realiza uma campanha de porta-à-porta, para distribuir medicamento a toda população, em todos agregados familiares, tanto para os deslocados como para os que vivem nas suas casas como uma medida de prevenção da malária. Segundo explica o Director do PNCM, trata-se duma campanha que consiste na distribuição de medicamento em três rondas, com um espaçamento de no mínimo 30 dias entre as rondas, sendo que a primeira teve lugar a inícios do mês de Fevereiro, durante 14 dias, a segunda terminou a 14 de Abril, e que a terceira terá lugar durante mês de Maio. Segundo o Dr. Candrinho, a meta é de abranger a todas as pessoas nos distritos de Metuge e na Ilha de Ibo, e segundo dados recolhidos, a pesar da grande mobilidade da população, conseguiu-se abranger durante a segunda ronda um número maior de pessoas comparando com a primeira ronda (Ilha do Ibo: 19.000 pessoas na primeira ronda, e 25.000 na segunda; Metuge: 90.000 pessoas na primeira ronda, e 112.000 na segunda).
Segundo expressou o Director do PNCM, esperamos com a campanha que os casos de malária assim como de óbitos reduzam e que com esta redução, possamos expandir esta estratégia para outros zonas do país.
O CISM, que tem como principal missão prover evidencias sobre estratégias que funcionam em relação a prevenção e/ou tratamento de enfermidades tais como a malária, joga um papel crucial para a implementação e monitorização do impacto desta intervenção. Sublinha o Dr. Pedro Aide que neste caso específico de Administração Massiva de Tratamento, o CISM realizou um projecto piloto no distrito de Magude, que demostrou um impacto significativo na reducção de casos de malária neste distrito, ao redor de 80% de casos de malária, após duas rondas de MDA consecutivas de tratamento contra a malária. E, com base nesta experiência e tendo em conta a situação de emergência na província de Cabo Delgado foi-nos solicitado o apoio técnico para a implementação deste MDA realizado pelo PNCM em colaboração com outros parceiros, para ver se podemos ajudar a reduzir o peso da malária, especialmente nesta altura em que a população encontra-se desprotegida devido as circunstâncias que tem estado a viver. Para tal, o CISM está envolvido na avaliação do impacto, tendo feito uma avaliação previa ao início da campanha, que permitiu aferir a proporção de casos de malária nos distritos abrangidos pelo MDA antes das campanhas e voltará a efectuar uma outra avaliação após o término das 3 rondas consecutivas de MDA, para avaliar o impacto da campanha. Segundo o Dr. Pedro Aide, espera-se conseguir ter uma redução na mesma proporção da que se havia alcançado em Magude (ao redor de 80%).
Está a ser usado nesta campanha a Dihidroartemisina-Piperaquina, uma combinação de dois fármacos derivados da artimisenina que está provado ser eficaz tanto para o tratamento como na prevenção da malária, proferindo uma protecção contra a infecção pelo plasmodium que causa a malária que dura entre 30 a 45 dias. Portanto, administrações consecutivas desta terapia, como o planeado para Cabo Delgado (3 administrações consecutivas), tem o potencial de proteger a população por um período de 3 à 4 meses, de modo a reduzir a morbilidade, mortalidade e a sobrecarga aos serviços de saúde já enfraquecidos.
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