CISM E AMIMO FORTALECEM PARCERIA PARA COMBATER A TUBERCULOSE ENTRE MINEIROS MOÇAMBICANOS
- Nercio Machele

- 17 de nov.
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O Centro de Investigação em Saúde da Manhiça (CISM) recebeu, na manhã do dia 29 de Outubro, uma delegação da Associação dos Mineiros Moçambicanos (AMIMO) para uma reunião de cortesia que marcou o início de um diálogo estratégico voltado ao fortalecimento das relações institucionais e à definição de áreas de colaboração técnica e científica entre as duas entidades. O encontro reuniu investigadores, técnicos e representantes das duas instituições num ambiente de cooperação e compromisso mútuo com a saúde e o bem-estar dos mineiros moçambicanos.
A visita proporcionou uma oportunidade para identificar linhas de colaboração que possam contribuir para o controlo e a prevenção da tuberculose, uma das doenças mais prevalentes e persistentes entre trabalhadores mineiros e suas famílias. A escolha deste tema foi deliberada, considerando que a tuberculose continua a ser um dos principais problemas de saúde pública em Moçambique, afectando especialmente grupos expostos a condições de trabalho precárias e ambientes de risco, como as minas sul-africanas, onde muitos moçambicanos exercem a sua actividade laboral.
Durante a visita, o investigador do CISM, Sozinho Acácio, apresentou uma visão abrangente do trabalho desenvolvido pelo centro, sublinhando a sua missão de gerar evidências científicas que contribuam para a formulação de políticas de saúde pública eficazes. Sozinho, destacou ainda a ampla experiência do CISM em investigação biomédica e operacional na área da tuberculose, fruto de vários anos de estudos que abrangem desde o diagnóstico até ao tratamento e acompanhamento de pacientes.
Destacou também que o CISM conta com infraestruturas laboratoriais de referência nacional e internacional, equipadas com tecnologias avançadas, como o diagnóstico molecular através do sistema GeneXpert, culturas microbiológicas e sequenciação genética, que permitem detectar com precisão casos de tuberculose e identificar as suas variantes, incluindo as formas resistentes a medicamentos. Além disso, sublinhou que o CISM tem capacidade consolidada na realização de ensaios clínicos e estudos de coorte, o que o posiciona como parceiro estratégico em projectos de investigação e desenvolvimento de soluções inovadoras para o controlo da doença.
Durante a visita, foi reiterada a disposição do CISM em colaborar com a AMIMO em diversas frentes, nomeadamente na formação de activistas e técnicos comunitários, no fortalecimento da vigilância activa da tuberculose e na realização de estudos epidemiológicos específicos sobre a incidência da doença entre mineiros e ex-mineiros. Por sua vez, o presidente da AMIMO, Moisés Uamusse, salientou que a organização enfrenta diversos desafios, particularmente no campo da saúde.
Entre as principais dificuldades apresentadas, destacou-se a precariedade da assistência clínica aos mineiros regressados, a falta de harmonização dos protocolos de tratamento entre Moçambique e a África do Sul, o que frequentemente resulta na descontinuidade dos cuidados, e a ausência de integração entre os sistemas de vigilância em saúde e de protecção social, dificultando o acesso rápido a indemnizações e tratamentos. Outro ponto crítico apontado foi a baixa cobertura das acções de saúde pública voltadas à tuberculose, que actualmente não alcançam nem metade dos casos estimados.
Segundo o presidente, a AMIMO pretende intensificar a busca activa de casos entre ex-mineiros e suas famílias, fortalecendo a ligação entre suspeitas identificadas nas comunidades e as unidades sanitárias de referência. A organização tem igualmente apostado na expansão da sua plataforma digital “OneImpat”, uma ferramenta que permite identificar barreiras de acesso aos serviços de saúde, bem como situações de estigma e causas de abandono de tratamento entre pacientes.
No que respeita às oportunidades de colaboração, a AMIMO também manifestou disponibilidade em estabelecer uma parceria com o CISM, salientando que mantém uma relação próxima com as comunidades mineiras e dispõe de uma rede de activistas locais capacitados para implementar actividades de campo. A parceria, segundo Uamusse, poderá facilitar o acesso do CISM às comunidades mineiras, impulsar pesquisas conjuntas, promover campanhas de prevenção e diagnóstico precoce da tuberculose e contribuir para o desenvolvimento e avaliação de novas ferramentas diagnósticas e terapêuticas.
A AMIMO foi criada em 1996 como uma organização representativa dos interesses dos mineiros moçambicanos, tendo sido oficialmente registada em 1998 no Ministério da Justiça. Actualmente, representa cerca de onze mil mineiros activos e presta apoio contínuo a ex-mineiros e suas famílias, consolidando o seu papel como voz e estrutura de apoio para esta comunidade.





